Impulso de 50% nos lucros no primeiro semestre para 3 milhões coloca a tecnológica portuguesa na direção do seu melhor resultado anual de sempre. Glintt Global diz estar pronta para aquisições e admite entrar num novo mercado a médio prazo.
Depois de ver os lucros dispararem 50,4% para 3,02 milhões de euros no primeiro semestre e extrapolando com base no desempenho dos anos anteriores, a Glintt Global espera “apresentar em 2024 os melhores resultados líquidos da sua história”, superando o marco de 4,2 milhões de euros em 2008, ano em que consolidou a Consiste com a ParaRede. Essa é pelo menos a expectativa do CEO, Luís Cocco, que adianta, ao Negócios, que a tecnológica portuguesa não só está pronta para voltar às aquisições, como também estuda galgar as fronteiras da Península Ibérica, entrando num novo mercado.
Luís Cocco atribui “o aumento muito significativo” do resultado líquido “às grandes melhorias a nível de eficiência operacional”, decorrentes designadamente do recurso generalizado a ferramentas de inteligência artificial, que “tem tido grandes impactos na diminuição de erros e permitido uma maior rapidez de desenvolvimento”, mas também da “inovação constante dos processos” que tem permitido “grandes reduções ao nível de custos”. “Estamos a conseguir de uma forma clara aumentar este objetivo da rentabilidade e este ano será histórico nesse sentido”, reforça o CEO da tecnológica especializada no setor da saúde, detida em 75% pela Associação Nacional de Farmácias. Luís Cocco deixa claro, no entanto, que tal não tem sido conseguido com sacrifício da qualidade: “Consegui mos compatibilizar, porque apostámos muito na melhoria da qualidade de serviço ao cliente e, portanto, fizemos um investimento forte nesse sentido, sobretudo nas farmácias em Portugal e todas as métricas de serviço ao cliente se mostram bastante positivas”, frisa.
Conjuntura nacional levou a estagnar volume de negócios
Segundo o relatório e contas do primeiro semestre, comunicado esta quinta-feira à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CM VM), o EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) atingiu 11,2 milhões de euros, refletindo uma subida de 6,8% face aos primeiros seis meses de 2023. Um crescimento imputado à melhoria na margem EBITDA (relação entre resultado operacional e a receita líquida) – de 17,2% para 18,4%. Já o volume de negócios consolidado manteve-se quase inalterado, atingindo 61,1 milhões de euros, traduzindo uma subida de 0,1% face ao primeiro semestre do ano passado, resultado de uma dinâmica distinta dentro e fora de portas: no mercado internacional, essencialmente em Espanha, a faturação cresceu 5,2%, enquanto no nacional diminuiu 2,3%. Luís Cocco diz que a estagnação tem um cariz temporário: “E perfeitamente conjuntural. Trabalhamos muito com a administração pública e, neste primeiro semestre, com as eleições, muitos projetos atrasaram-se um pouco, mas estamos convictos de que, até ao final do ano, vamos recuperar”, diz, atestando que a GlinttGlobal mantém a meta de alcançar um volume de negócios de 150 milhões até 2027.
Regresso às aquisições e entrada em novo mercado
A tecnológica tem crescido muito por via de aquisições e, depois de um período de jejum, Luís Cocco garante que a empresa está pronta para regressar às compras: “A certa altura temos de digerir. Achámos que havia um momento para pausar e para extrair o máximo valor das empresas que adquirimos. Correu bastante bem e estamos novamente à procura de alvos para adquirir, muito provavelmente mais em Espanha, onde temos muito potencial de crescimento”. Este ano será “pouco provável”, até porque, “às vezes, um processo de compra é quase um namoro”, sublinha Luís Cocco.
O CEO da Glintt Global também confirma um potencial ataque na frente da expansão geográfica, embora a médio prazo. “Para terem sucesso, as empresas têm de ter sempre ambições de crescimento. E há de haver um momento em que as posições no mercado português e espanhol já não permitem manter esse crescimento. E o crescimento que gera ambição nas pessoas, novas oportunidades profissionais e melhorias e sinergias a nível da rentabilidade, pelo que é provável, dentro de três a quatro anos, que possamos entrar numa nova geografia”. Luís Cocco mantém as cartas junto ao peito sobre a localização, mas desenha um círculo no mapa: “Muito seguramente na Europa Ocidental, porque há mais afinidades em termos de como as indústrias funcionam”. “Estamos a olhar para o que poderá ser a Glintt. Queremos continuar a crescer e o futuro tem que se começar a preparar hoje”, remata.
A Glintt Global herdou o “brilho” de uma das maiores tecnológicas portuguesas que marcou uma época, da década de 1990 até ao rebentar da “bolha” em 2000: a ParaRede. Descrita como pioneira em frentes como a utilização da Internet, desenvolvimento do comércio eletrónico ou automação de cadeias de abastecimento, estreou-se na bolsa em 1999, tornando-se na primeira tecnológica lusa a ser cotada. Menos de meio ano depois fixa um máximo histórico de 39,06 euros por ação com o lançamento do portal terraportugal.com. Vai renovando máximos e Carlos Coelho de Campos, à altura acionista principal, anuncia a intenção de a cotar no estrangeiro. Vivia-se a euforia das “dotcom”, mas a “bolha” estoira. A ParaRede começa a cair. Em 2003 conclui uma reestruturação e encerra atividade no Brasil e, quatro anos depois, sai do PSI-20. Em 2008 é aprovada a fusão com a Consiste e nasce a Glintt que, no início do ano, passou a designar-se Glintt Global, com duas submarcas: a Glintt Life e a Glintt Next.
Fonte: in Negócios